Daniel Johnston and his Worried Shoes

Eu já comentei em posts dispersos por aí a obra de Daniel Johnston. Esse ano comemoramos o cinquentenário de nascimento deste músico controverso em suas ações mas muito direto em sua obra.

Vocês podem pesquisar por aí, mas em resumo, Daniel é de família religiosa, e incomodou muito os pais que queriam vê-lo contribuir para a obra de Deus ao invés de só querer saber de desenhar e compor músicas. Logo cedo, ao final da adolescência, foi diagnosticado como maníaco depressivo, o que piorou ainda mais depois das várias viagens de ácido no começo do anos 80. Em meio a tudo isso, Daniel fez por conta própria várias fitas K7 gravadas na garagem de casa com dezenas de canções próprias em cada uma. Ele passava cópias para quem visse na rua, e sua fama no meio musical independente tomou grandes proporções.

Mas como era autodidata maluco que era, a maior parte do seu trabalho soa desafinado, o que para muitos é o charme, e que evidenciaria uma estética da baixa definição, que nos faria ignorar por um tempo as regras e padrões para concentrarmos em nos sensibilizar mais e analisar menos.

Daniel é direto, cru, singelo.

Recomendo a audição da canção Worried Shoes. Na foto que compõe o vídeo, Daniel aparece ainda são, antes da maldição que o tomou nos anos 1980. Aliás, Daniel entrou numa paranoia em que ele era enviado de Deus e tinha que ajudar as pessoas a se livrar do Satanás. Quando foi pra Nova Iorque em companhia do Sonic Youth, Daniel passava metade do show discursando sobre o número 6 (o diabo. O DIABO), o 7 (Jesus), o 8 (Deus, eu acho, não lembro), e 9 (o homem). “Number nine, number nine, number nine”, ele falava, em menção à música dos Beatles. A partir daí o discurso se perdia ainda mais. À noite, Daniel sumiu do apartamento, e os membros do Sonic Youth foram procurá-lo. Encontraram Daniel pregando a quatro ventos com o violão no ombro.

Daniel é tão referenciado que suas composições já foram regravadas por Beck, Butthole Surfers, Wilco, Sonic Youth, Pearl Jam e uma penca de outras bandas.

A mesma canção de antes, agora na voz de Karen O, do The Yeah Yeah Yeahs, mais limpa e bonitinha. Fica a seu cargo decidir qual é melhor. Trilha sonora de Onde vivem os monstros. Não preciso dizer que Spike Jonze é outro que é fã da obra de Johnston.

Por fim, depois de ter ficado num sanatório no começo dos anos 90, Daniel passou a ser intensamente medicado, e hoje toma cerca de 15 pílulas por dia para manter “no nosso mundo”. Se é difícil encarar Worried Shoes original sem sentir o peso da HUMANIDADE, que tal a densidade da exibição abaixo, datada de 2009? Daniel treme não por vergonha, mas provavelmente por causa da medicação. Adicione aí vida sedentária, vício em cigarro e muita Montain Dew, o que refletiu em obesidade e rouquidão. Daniel vive com os pais, idosos, e é cuidado por eles, que até hoje tem de lhe fazer  almoço, janta, levar pro médico e assim por diante. Eles também são seu empresário, e, embora tenham levado muito tempo para aprender a importância de Daniel como artista, hoje já não o veem com o diabo no couro.

Pelo menos, de acordo com a mamãe Johnston “de vez em quando ele arruma o próprio quarto”.

Se Daniel não é uma lição de vida estilo Luciano Huck, ao menos ele é capaz de mexer com as nossas, mas se de modo diabólico ou celestial vai depender do ouvinte.

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