Plágios, bundamolice e mais microfones – “Oração” parte 2

Mal se passou oito dias e ninguém mais aguenta essa maldição d’A Banda Mais Bonita da Cidade. Há muitas eras atrás (ontem) eu escrevi um post focando especialmente questões técnicas de microfonação deste clipe, provavelmente a parte mais inovadora, já que criticam por aí que são, todos da banda, um bando de bunda moles neo-hippies, além de fazerem a canção mais chata e repetitiva do período 17-25 de maio de 2011.

Ainda assim, o Daniel de Bem, a quem eu agradeço as considerações, me alertou que já fizeram clipes com essa estética, e para a web!

Vamos ouvi-lo:

O Vincent Moon é um cara que faz uns vídeos iguais ao da banda mais bonita da cidade, inclusive ele já esteve em POA para uma mostra comentada de seus vídeos. Mais especificamente, este é o perfil do La Blogotheque, o projeto que criou (ou fez famoso) esse lance de filmar a banda ao vivo (maioria das vezes em planos sequência) em locais inusitados, bem longe da ideia de apresentação musical.

Tem vídeo com o Beirut, que ele filmou várias músicas. Inclusive o video mais famoso que ele fez do Beirut foi da música Nantes, que alguns acusam de que o video d’A Banda Mais Bonita da Cidade não passe de um plágio com trechos desse e de outros vídeos.

Mas chamei a tua atenção pois todos os pontos que tu levantou dos porquês do video ser um bom video, já estão presentes nos vídeos do Vincent Moon. E é por isso que na descrição do video d’A Banda Mais Bonita da Cidade diz “sim, nós adoramos Beirut”. Os caras mandaram bem e o video deles é do caralho. só acho que deveria haver um “inspirado nos vídeos de Vincent Moon”.

Vejam o Nantes:

OK, mas eu discordo, porque neste clipe só tem o microfone da câmera e uma lapela no vocalista, enquanto que no d’A Banda Mais Bonita da Cidade são vários os microfones, e tem todo aquele lance do produtor de áudio mixar os sons de acordo com o enquadramento visual. Pode ser inspirado, com certeza, mas no final os sentidos agenciados são bem diferentes. Pra mim, Oração (o video) é um elogio aos hardwares e softwares de captura e edição de áudio portáteis (inspiro-me em Flusser aqui). Esse clipe seria impossível de ser produzido em 1960, por exemplo, porque os microfones tinham que ser conectados a mesas de som que não saíam do lugar!

Também é diferente do clipe do Beirut porque enquanto este também é uma performance ao vivo, na rua e para um grande público, em Oração é uma performance cinematográfica, pois eles atuam para as câmeras. Aí entram outros valores em jogo, como a potencialidade de um close, por exemplo, que os músicos sabem que pode acontecer, então eles contém as caretas e expressam mais essa cara de maconheiro feliz.

Quero lembrar dois casos contemporâneos de microfonação in loco, mais para salientar as diferenças técnicas entre esses e o Nantes e Oração. Reparem como são quatro métodos bem diferentes:

Primeiro, o clipe Drunk Girls, da LCD Soundsystem. Reparem abaixo que, aos 18 segundos do vídeo, um dos caras vestido de branco, ao colocar um microfone diante do músico, testa ele, e ouvimos esse som. Aí já há uma mudança dos clipes tradicionais: foi preciso provar ao espectador que este não é um microfone cênico. Em seguida, o músico canta, e sua voz vaza por cima da música original, como se fosse um karaokê (exceto por que a sua voz permanece na gravação original também).

Aos 36 segundos, uma garota da banda canta diante de outro microfone. Mas no áudio original ela não faz isso, o que fica bem estranho para nosso olhar acostumado com videoclipes dublados. Aos 1:18, um dos caras de branco toca o alarme de um megafone diante de um microfone, tão alto que a música quase não se ouve. Como vocês podem ver no clipe, o fator bagunça é o fundamental, e para ser mais impactante do que o clipe de Smells Like Teen Spirit, a zona ocorre na trilha sonora também.

Um segundo caso é o clipe Make you feel my love, da cantora Adele, dirigido por Mat Kirkby. O clipe começa com ruídos urbanos e um piano. Abaixo, aos 31 segundos, Adele pega um celular de uma mesinha e ouvimos o ruído dessa ação. Novamente, algo que não é típico de videoclipes. Em seguida ela começa a cantar, e pela acústica da sala e imperfeições, conseguimos reparar que o som da voz dela foi capturado ali mesmo. O piano é uma gravação, que talvez tenham reproduzido para ela no fora-de-quadro, enquanto um microfone, dessa vez também fora-de-quadro, captura sua voz. Se não for isso, pelo menos é assim que soa, mesmo em caixas de som boas e em alto e bom som.

É de se estudar todos estes casos. Por que será que, do nada, os diretores de videoclipes decidiram tirar a mordaça dos microfones? Por que criaram essa diluição das diferenças entre o gravado e o ao vivo?

5 respostas em “Plágios, bundamolice e mais microfones – “Oração” parte 2

    • Nossa, que espantoso isso!

      Bom, sem dúvida é o mesmo princípio, mas eu tenho que ressaltar que, pra mim, o diferencial do vídeo Oração é o uso dos microfones e a edição de áudio que rola na pós-produção.

      Enquanto esse vídeo que tu nos trouxe tem como áudio aquilo que foi capturado pelo microfone da própria câmera (o que o deixa com uma estética mais caseira), o clipe de Oração tem aquele monte de microfone.

      Pra mim a diferença é essa – é sonora.

      E penso que esse seja um caminho bem interessante de ser trilhado atualmente, pois a mobilidade que era um vez das câmeras e seus microfones sem graça, que só captam o ambiente, agora também chegou aos microfones de estúdio, que pode se acoplados a notebooks e discos rígidos portáteis.

      Quanto ao visual, podemos até falar de uma inspiração, ou qualquer coisa do tipo. O conceito de plágio, por sua vez, é meio confuso e não saberia dizer se se enquadra aqui…

  1. Rapaz, cê comparou o vídeo ERRADO de Beirut. o Nantes, que causou tanta polêmica, é esse aqui:

    É IMPOSSÍVEL dizer que não é plágio….

    • Oi, XchaXX! Eu demorei pra responder porque estou desprovido de internet. Não vou poder ver o vídeo agora, mas durante a próxima semana eu assisto e te respondo! Obrigado pela dica!

    • Cara, sustento minha opinião no comentário anterior de que na trilha sonora não é plágio. Tampouco acho que no visual é plágio, pois só porque uma ideia é boa não quer dizer que não se possa fazer variações. Se fosse por isso, todo clipe que apresenta uma banda tocando em playback seria plágio (e assim teríamos milhões deles).
      Leia o que eu falei sobre o som:

      “Bom, sem dúvida é o mesmo princípio, mas eu tenho que ressaltar que, pra mim, o diferencial do vídeo Oração é o uso dos microfones e a edição de áudio que rola na pós-produção.
      Enquanto esse vídeo que tu nos trouxe tem como áudio aquilo que foi capturado pelo microfone da própria câmera (o que o deixa com uma estética mais caseira), o clipe de Oração tem aquele monte de microfone.
      Pra mim a diferença é essa – é sonora.”

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